OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


2.4.05  

Papáveis.

Ao contrário do que previa a sociologia de há umas boas décadas atrás, o mundo está mais religioso. Não será certamente o "nosso" mundo - em Espanha apenas 14% dos jovens praticam o catolicismo. Mas entre a privatização do Estado, os efeitos laborais e económicos do neo-liberalismo, o colapso das grandes narrativas ideológicas e o puro e simples ritmo e intensidade das mudanças, muita gente se vira para a religião (basta ir ao Brasil e ver o que é o surto do evangelismo). Este Papa Católico ficará para a História como a pessoa que percebeu isso e apostou numa mistura inteligente entre hiper-conservadorismo e um discurso "global", feito em múltiplas viagens e dirigido a esses "despojados da Terra". Não estou a fazer um elogio: estou a constatar a esperteza política de quem ocupa um cargo que se diz não-político., Em Suma, a ICAR descobriu uma (nova)forma de populismo, em que se identificam as causas do mal-estar e se propõe como "solução" o regresso ao passado, ou a ilusão disso. Daí a importância de um discurso profundamente sexista e homofóbico - feito ao mesmo tempo que a crítica a Bush e à guerra do Iraque. Um Komintern da Internacional Comunista não teria feito melhor propor o que parece ser uma mudança esperançosa, com um reaccionarismo moral a toda a prova.

PS: Para quando a transferência da Santa Sé para outras paragens? Afinal de contas, a América Latina tem o grosso dos católicos do mundo. Que tal a Sede em Salvador da Bahia, a ver se algum sincretismo acontece? Ou, então, Jerusalém - que, como alguém disse, deveria ser a primeira cidade internacional, gerida pela ONU e onde as três religiões mono- (não stereo) teístas tivessem as suas sedes? Na União Europeia - a que pertence a Itália - é que fica um bocado mal.

PPS: Por aqui, em castelhano fala-se, nos jornais e TVs e a propósito da sucessão, dos cardeias papables. Traduzido à letra, é uma delícia...

mva | 20:12|