OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


3.4.05  

A ilha.



Depois da extraordinária porcaria chamada "Alexandre", confesso que fui ver Looking for Fidel receando o pior. Mas achei que seria interessante ver a entrevista de Oliver Stone com Fidel depois de ter visto Habana Blues. Não é fácil aguentar visualmente uma hora de câmaras a tremer. Nem a espécie de delírio envelhecido de Fidel; nem as caras pouco inspiradoras de simpatia dos dissidentes cubanos (há algo que não "compro" neles; quanto a Fidel não o comprava já, ainda que se assemelhe mais àqueles avós a quem já não volta a dar em termos de convicções - he's elsewhere...). Interessante mesmo é perceber - nas entrelinhas - que Cuba é um lugar único, no sentido em que o seu processo político conseguiu criar uma cultura, no sentido antropológico: não é tanto a repressão (que existe) que aguenta o regime, mas sim o isolamento e a "confusão" entre regime e identidade nacional, criando uma hegemonia. Algo disso se percebe também em Habana Blues. Por muito triste que seja, é intelectualmente fascinante pensar Cuba para lá do debate estritamente político-ideológico.

mva | 17:15|