OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


18.4.05  

Em rosa e cinza.



Abro um jornal local e deparo com um artigo sobre Anjelica Huston. Fico seduzido pelas suas palavras de revolta com a ditadura de género e idade na indústria cinematográfica. Não só os homens ganham mais e têm mais hipóteses de estrelato, como as mulheres são punidas assim que começam a envelhecer. Mas Huston, para mais, recusa fazer plásticas ou colocar Botox. Aparentemente a sua posição já havia sido expressa por pessoas como Kim Basinger e Jamie Lee Curtis (e Sarandon, não? Espero que a minha favorita tenha dito coisas semelhantes). Apetece aplaudir. Em tempos o mundo era gerido por uma hierarquia de idade. Os anos sessenta mudaram radicalmente isso. E ainda bem que o fizeram. Mas libertada a juventude, cedo O Mercado tratou de inventar A Juventude. Hoje vive-se um pesadelo parecido com os que viveram os países com revoluções libertadoras cedo transformadas em novos sistemas de opressão. A ditadura do corpo jovem como modelo central de beleza já atinge uma tonalidade moral, para não dizer moralista - é feio envelhecer. As mulheres são mais vitimadas por isto, já que continuam a ser objectificadas a partir dos seus corpos e da capacidade de atracção destes. Mas o fenómeno migrou também para os gays, criando formas de exclusão, real e simbólica, dos mais velhos. É claro que escrevo isto a partir de um lugar identitário (OK, João O., de afinidade...). Quando for (mais) velho quero abrir um clube para pessoas mais velhas e fundar uma casa de repouso gay e lésbica. Alguém quer começar a pensar na Cooperativa Rosa-Cinza?

mva | 18:44|