OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


26.4.05  

Assim não vamos a lugar nenhum.

Dito assim, isto é pura ideologia. Mais: é irresponsabilidade social, num mundo onde não só já é difícil falar em diferenças entre homens e mulheres no geral, mas onde existe, isso sim, uma relação assimétrica de poder e desigualdade. Precisamos de mais informação sobre a qualidade desta pesquisa; precisamos de informação sobre outras teorias, sobre contra-evidências; precisamos de ouvir também a opinião de especialistas de outras áreas; precisamos, sobretudo, de uma abordagem crítica, cautelosa, e consciente de que quando se fala destes assuntos não se está a falar de ciência "neutra", mas de questões graves que afectam a cidadania, a democracia, a igualdade. É terrivelmente irresponsável fornecer às pessoas este tipo de "notícia" como se fosse uma realidade incontornável. O problema fundamental quer da pesquisa apresentada quer da notícia sobre ela é o pressuposto do dimorfismo sexual como objecto de inquérito e como base explicativa para diferenças e desigualdades sociais. E que vai o novo Ministério da Educação fazer com esta proposta contida na notícia: «Neste sentido, o Instituto da Inteligência está a organizar acções de formação em escolas dos 1º e 2º ciclos, bem como cursos para pais, a fim de transmitir estas e outras descobertas sobre as diferenças entre rapazes e raparigas no processo cognitivo e nos comportamentos.»?

mva | 12:45|