OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


19.4.05  

Ainda os novos Decos.

O comentário do António Tomás ao post "Novos Decos" sobre o artigo de Rui Pena Pires é pelo menos tão interessante quanto este. Pena Pires, de quem sou colega, tem há muito uma posição anti-multiculturalista, próxima da visão "republicana" que tem força em França. A sua postura é simultaneamente anti-racista e contra o surgimento de etnicidades com valia política (espero não estar a interpretá-lo mal). Para o António Tomás, como para muitos de nós que, por uma razão ou outra de "identificação", sentimos a distância que vai do proclamado universalismo até ao verdadeiro reconhecimento e respeito, o multiculturalismo já não nos parece um papão tão grande. Sobretudo porque percebemos a necessidade de algum essencialismo estratégico: sem a definição das formas de exclusão, e de quem é excluído, parece-nos difícil alterar o estado das coisas. No entanto, sou contra uma política multiculturalista do Estado, criada a partir de cima, definidora ela mesma de quem são os componentes étnicos, culturais, etc. Assim como sou contra uma política do Estado que finja não existirem "identificações". O assunto é um verdadeiro imbróglio, em todos os países onde a questão se põe, e há que inventar uma terceira via. Será preciso muita investigação, debate e pensamento (daí, por exemplo, a "utilidade social" das ciências sociais...). Numa coisa concordamos todos à partida: ninguém pode ser excluído em virtude das suas origens; e ninguém pode ser acantonado às suas origens. Nacionalidade, cidadania e identidades devem ser pensadas a partir daí.

mva | 13:33|