OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


9.2.05  

Continuação do post anterior.

O post anterior não significa nenhum desejo de que aconteça em Portugal o mesmo que aconteceu em Itália: Berlusconi por Berlusconi, já temos vários candidatos; Democráticos de Esquerda por democráticos de esquerda, já temos o PS. Referia-me apenas ao facto de poder haver ou não um colapso do regime político-partidário. Em Portugal prefere-se as doenças crónicas prolongadas.

Quanto às ideologias, também há algo a esclarecer. A ideia generalizada de que "as ideologias morreram" (como ideias correlatas, do tipo "fim da História", etc.) pertence ao novo pensamento único, a meu ver de direita. É o mesmo "pensamento" que, a coberto dessas declarações sobre o fim de várias coisas, pretende simplesmente dizer que o que há é o que pode haver. Traduzindo por miúdos, o mundo passaria a viver na versão globalizada do capitalismo neo-liberal (a adjectivação é importante, porque se trata de expandir o capitalismo da esfera económica e do mercado para a esfera política) para toda a eternidade.

Defender a necessidade de definição ideológica não tem que ser o mesmo que defender dogmatismos ou fés políticas. Trata-se simplesmente de defender programas com base em visões do mundo assentes em escolhas éticas claras. Há quem queira que deixemos de pensar assim, empurrando-nos para a esfera da mera emoção política, ou da tonta simpatia ou antipatia por dirigentes partidários.

PS: Por fim, quanto às "previsões", parece-me que os votos brancos e nulos também vão aumentar, assim como as votações nos partidos sem representação parlamentar. Quanto à abstenção, será a maior incógnita: as gentes vão votar em massa por irritação, ou vão ficar em casa em massa por... irritação?

mva | 16:41|