OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


1.12.04  

Restaurar a Restauração.

Não sou historiador, mas celebrações como a do 1º de Dezembro sempre me cheiraram a esturro. Porquê? Porque o tipo de interpretação veiculada pelos manuais escolares e popularizada no senso-comum é não só nacionalista de modo básico, como anacrónica. Ou seja: é muito difícil imaginar que em 1640 existisse o tipo de sentimento nacional que começa a existir em força a partir do século XIX e que hoje se acha "normal". Sentimentos como o nacional (assim como outros: consciência de classe por parte dos trabalhadores, consciência gay por parte de LGBTs, etc...) surgem em certas épocas e não são coisas de sempre. Por outro lado, e ao contrário do que por aí se diz, Portugal não foi "ocupado". Naquela época, as dinastias reinantes estavam ligadas entre si e era quase banal que uma casa real de um país reinasse sobre outro caso as regras de sucessão o permitissem (e obrigassem, até). Mais: entre 1580 e 1640 Portugal e Espanha foram duas coroas unidas e não propriamente uma tomada pela outra. A construção de um discurso anacrónico - creio que a partir do nacionalismo dos finais do XIX e depois muito reforçado quer pela Primeira República quer pelo Salazarismo - deu nisto e nisto.

mva | 15:24|