1.12.04
O Inverno que vem.
Continuo a achar que Sampaio fez mal em ter indigitado PSL em Julho passado. Fez politicamente mal. Depois, fui ficando surpreendido com o quão mau PSL mostrou ser (e é provável que o próprio o tenha sentido, numa espécie de confronto consigo próprio e as suas limitações). Num momento de esperança ainda pensei que Sampaio tivesse "feito de propósito", como que para enterrar PSL definitivamente e não o deixar continuar a apresentar-se como salvador do Sporting, perdão, da Pátria. É claro que um pensamento destes aguenta-se dois minutos: Sampaio teria sido ainda mais irresponsável caso tivesse jogado esse jogo. Seja como for, o resultado do batido banana-laranja foram quatro meses de caos e profundo embaraço nacional. Sampaio toma agora a decisão correcta (politicamente, repito, isto é, uma decisão com a qual concordo...). E abre um ciclo político em que várias questões se apresentam:
1. PSL vai usar dois meses de governo para se apresentar como vítima, distribuir benesses e tentar inverter a opinião pública. Pode fazê-lo porque desta vez ainda menos vai ter que governar. Vai ser gestão da comunicação e nada mais.
2. O PSD vai entrar em polvorosa (e nós ralados...). Esse vai ser o espectáculo saboroso.
3. Paulo Portas vai tentar capitalizar a imagem que tem cultivado cuidadosamente nos últimos tempos: "cumpridor da coligação", "leal", "fiel", com ministros que se "portaram bem". Esta mistificação terá que ser combatida: não se pode perder a oportunidade de afastar a criatura da vida política portuguesa com um score eleitoral miserável.
4. No PS vai-se assistir à corrida de Sócrates, apanhado desprevenido. Embora vá ser fácil vencer as eleições, não vai ser fácil convencer as pessoas.
5. PC e Bloco vão ver-se apanhados na falácia do voto útil. Isto se as sondagens, lá mais para finais de Janeiro, indicarem alguma recuperação do PSL, perdão, PSD. Ambos, mas sobretudo o Bloco, navegam melhor quando há a certeza de vitórias PS... O PC, com Jerónimo, poderá concentrar-se no seu universo fiel e o Bloco poderá fazer a "diferença de esquerda" face às propostas socráticas.
6. No espaço de um ano, haverá quatro idas às urnas: legislativas, referendo europeu, autárquicas e presidenciais.
7. E Cavaco e Guterres são já, obviamente, os dois candidatos do Centrão, os homens da "geração alterna" face à actual geração de politiquinhos. Será preciso construir um candidato de esquerda que não seja um mero emissário dos conclaves quer do PC, quer do PS.
Mas - oh, irresponsável optimismo! - partimos para este ciclo com uma sensação boa: a de que vivemos num país onde, se calhar, não há espaço social e cultural para o triunfo político de Santanas Lopes e Paulos Portas. Será isto que os manuais de História dirão daqui a cinquenta anos - que em Portugal não havia espaço para o populismo vazio e para a tomada do poder pela lumpen-burguesia (!)?
mva |
11:37|
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