OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


18.12.04  

Murmúrios.



Desde logo, duas importantes razões para ver este filme: lida com a memória colonial (e sobretudo a da guerra colonial); e assenta num olhar feminino, algo raro no cinema. Mas há mais: guarda-roupa, décor, reconstituição da época, música. E o realismo (terrível, mas... realista) de assumir o olhar seleccionado dos brancos (das brancas...) que "foram parar" a Moçambique - especialmente na quase invisibilização dos negros como sujeitos, espécie de "sombras", como diz uma personagem; ou na "descoberta" dos maridos como pessoas-outras daquelas que conheceram nos cafés de Lisboa. A personagem que refere a sua criada como "uma sombra" é, aliás, como que um retrato - cru e sem caricatura - de uma época; em termos de psicologia, relações de género, classe, "raça" e contexto político. Mónica Calle é excelente a representá-la - densa, pesada, complexa. Surpreendente.

PS. Agora: Costa dos murmúrios indeed... Eu esforço-me, mas nunca percebo metade do que se diz nos filmes portugueses! E por acaso até é a minha língua m/paterna...

mva | 11:01|