OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


3.12.04  

Metabloguística.

Assim de repente consigo identificar três registos de discurso nos meus posts. Um mais subjectivo ("detesto", "adoro", etc...); outro mais político (de posicionamento, de reivindicação ou denúncia...); e outro que, à falta de melhor expressão, poderia chamar de "sociológico".

Os três misturam-se muito no medium blog. Essa mistura está na origem de grande parte dos problemas de interpretação e comunicação que surgem nos meus posts e, depois, nos comentários. Mas o nível de disputa interpretativa e comunicacional cresce quando o registo é mais "sociológico" (entre aspas porque em rigor não o é). É que este registo é, desde logo, não normativo; depois, é muitas vezes contraditório com o afirmado nos registos "subjectivo" e/ou "político"; por fim, a sua natureza quase-sociológica obriga a tratar os assuntos com uma espécie de frieza distanciada e analítica que, em última instância, critica não só as minhas preferências como as opiniões e atitudes dos que me são próximos.

Exemplo: enquanto "político" e "sujeito", defendo com unhas e dentes o movimento LGBT ou o Bloco, ou irrito-me com unhas e dentes com alguns dos seus sectores; enquanto "sociólogo" (cá está a razão das aspas: sou antropólogo de profissão) posso fazer análises que eles (movimento LGBT, Bloco, ou qualquer outra coisa) consideram terríveis mas que me parecem mais "próximas da realidade"...

PS: Quem tem blogs também já percebeu que o número de pessoas que comentam é substancialmente inferior ao número de pessoas que visitam/lêem o blog. Esta discrepância constitui uma armadilha: a tendência para começar a escrever o blog para os comentadores e a pequena comunidade virtual que se cria. É sempre bom contrabalançar isto com uma escrita para um leitor abstracto que, em última instância, é o próprio autor do blog. Acho eu de que...

mva | 18:24|