14.12.04
Ignobel.
Zapando pela BBC-World. Vários laureados Nobel discutem à volta duma mesa. Seis homens e uma mulher. Das áreas da física, química, medicina e economia. Discutem o futuro, em função da possibilidade de aumentar a longevidade humana. Às tantas são confrontados com a inevitável questão das consequências sociais de vidas humanas de mais de 200 anos. Começa então o disparate. A ignorância sociológica, antropológica e histórica dos laureados era absolutamente patética. Mas nunca um deles, ou o entrevistador, referiram que esse era um assunto para outros especialistas, de outras disciplinas. O que ali sucedeu - e sucede muito na vida normal, nos governos, nos media, etc - foi um exemplo da hierarquia de poder e prestígio entre as ciências. É mais ou menos assim: os cientistas sociais acham que podem falar sobre questões artísticas e das humanidades porque as acham meramente especulativas; dentro das ciências sociais, os sociólogos (porque mais relacionados com o(s) poder(es) através da "aplicabilidade do conhecimento") acham que a antropologia é uma sub-disciplina de cujos assuntos eles podem facilmente dar conta; os cientistas "duros" (incluíndo a técnica chamada medicina...)acham que as ciências sociais, incluindo a sociologia, não são ciências. E voltamos assim ao início do post: um grupo de laureados "duros" acha que pode falar sobre sociedade, escorregando em grossas cascas de banana...
Nada disto impede que toda a gente possa (e deva) falar de tudo. Essa é uma condição da democracia. E bom seria que a literacia científica fosse maior, para que uma melhor cidadania fosse possível. A questão é que devemos mitigar os efeitos das hegemonias provisórias de certos campos do conhecimento ou de certas áreas profissionais. Em tempos, entre nós, os advogados falavam de tudo; hoje, são os economistas a fazê-lo. E amanhã, quem ditará/dirá disparates sobre o que não sabe? Espero que não os antropólogos (não com certeza, que a "coisa" não dá dinheiro...)
mva |
17:18|
|