14.12.04
Identidade europeia.
Ouvi na rádio, já não sei em que contexto, Pacheco Pereira dizendo que não há identidade europeia pois ninguém está disposto a morrer pela Europa. É claro que ele não acha que morrer por um país seja bom. A mim nem me ocorre tal coisa como uma possibilidade a considerar. Nem a muita gente - e a cada vez menos gente (chama-se a isso progresso....). Poderá ter havido um tempo em que isso acontecia a muita gente. E haverá sempre gente disposta a morrer por algo. A questão não é, pois, a "perda de valores nacionais". mas sim uma redefinição (ou, melhor, reassignação) de valores. Por exemplo, estar disposto a morrer pela liberdade, face a uma situação de ditadura, mas não estar disposto a morrer pela "Nação" - ou pelo Benfica.
A importância atribuída ao nacionalismo como valor identitário central joga muito com as emoções do parentesco e do tribalismo (de qualquer modo, níveis diferentes da mesma coisa). Quando se diz que a Europa é apenas um projecto e não uma realidade identitária, parece que se está a falar de algo negativo, de falhado. Tenho justamente a opinião contrária: o que há de bom no projecto europeu (pelo menos naquele que defendo, mais social e mais democrático do que o que actual Comissão defende) é precisamente definir-se não como realidade de emoções identitárias, mas como projecto de valores sociais e políticos. Pela primeira vez na História há um projecto político que se apresenta como alternativo às duas outras modalidades: a das alianças estratégicas e a das identidades nacionais. Que os checos torçam pela Chéquia e os tugas torçam pela Portúguia, é algo que é difícil de mudar e não faz dano justamente se, a um nível mais abrangente, houver um projecto civilizacional de paz como é - ou, insisto, devia ser - o europeu.
PS: Decorre no R'n'V um interessante debate sobre nacionalismo, Portugal, etc... Não foi o O'Neill que falou no Portugalete, de que o Portugalito do João O. é reminiscente? Aceitam-se esclarecimentos.
mva |
16:49|
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