OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


3.12.04  

"Estado Civil? Idade? Clube?"

Foi na TSF e tratava-se de um debate entre os candidatos à Ordem dos Advogados. Mas poderia ter sido sobre outra coisa qualquer e noutro meio de comunicação. O que importa é que, às tantas, a moderadora precisa de apresentar o perfil dos candidatos. Uma série de descritores são usados: naturalidade, actividades exercidas, idade, ou mesmo estado civil. Mas, no meio destes - que já tomamos por banais - aparece um novo: "benfiquista", "sportinguista"... O tom de voz não era de brincadeira, embora a referência à preferência clubística ainda possa ser vista como relativamente jocosa. Certo é que há uns vinte anos, se não me engano, ninguém se lembraria de tal. O clube a que se pertencia era um assunto para conversas entre amigos, não para o perfil social (e político) das pessoas. O que agora parece ridículo ou fora de lugar, cedo será tão banal como os outros descritores. Assim se criam identidades colectivas, que passam a ter valor no negócio social. Podemos mesmo, por muito ridícula que pareça (e não parecerão quase todas? A mim ainda me faz cócegas, por achar irrelevante na maior parte das situações, ouvir pedirem-me o "estado civil", por exemplo) estar perante o começo de um novo descritor identitário?

mva | 18:15|