OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


7.12.04  

Condição impura.

Outro dia, na série City Folk, aparecia uma jovem de Zabreb que ensinava dança do ventre. Era filha de um egípcio e duma croata. Tinha nascido na Somália e era muçulmana. Depois das suas aulas como professora, ia para o centro judaico aprender danças judaicas. Porque gostava. Os seus amigos em Zagreb eram gente de todo o mundo, incluindo croatas. Vemo-la, a certo ponto, falar via net e webcam com os pais, emigrados nos EUA.

Pessoas assim há aos montes. Bem como pessoas como um brâmane indiano que aprecia o facto de a constituição do seu país querer abolir as castas; ou judeus seculares que, mesmo assim, se identificam como judeus; ou portugueses que recusam o catolicismo como parte da sua identidade; ou católicos a favor do aborto; ou... (a lista é infinita).

Para quê estes exemplos? Porque são eles que podem ajudar a ultrapassar a desagradável "guerra" política e cultural em torno das contradições entre cidadania (nacional), pertença, e multiculturalismo. As unidades com que lidamos ao pensar sobre este assunto não têm que (não devem...) ser objectos coerentes: colectivos de pessoas com a mesma cultura, língua, origens, religião, etc.

mva | 18:39|