28.12.04
Autor: José Quintas
Um dia destes acordei farto de saltar entre blogs e sites, jornais e tvs, cds e dvs.
Farto de cumprir horários, de trocar lugares-comuns com colegas e amigos, de tanto tempo perdido a consumir palavras, imagens e paciência. Farto.
Saí de casa. Ao fim de alguns passos já arrastava o corpo pelas paredes ou desatava aos pontapés aos cães, aos carros e às casas.
Agredia aqui uma pessoa, mais além sacava a outra um daqueles beijos que esmagam os lábios e deixam a língua dorida quase com pena de não ter sido arrancada.
Sem palavras. Só os olhos ardiam.
Deve ter sido dessa maneira que, a certo ponto, deixei cinco ou seis pessoas a trocarem de corpos e a conhecerem-se através da pele.
Fui preso, é claro.
Estou aqui a escrever isto porque sou sobrinho do xerife.
Enfim, o tempo é já presente.
Volto para casa, olho para as paredes e saio de casa.
A vizinha do lado dispara-me um olhar assassino. Nos passeios as gentes esbarram em mim e dão-me a sentir ombros e cotovelos...
... corro até à ponte... os paralelos são frios... mas não... ainda não.
Atravesso o rio e chego a um campo.
Respiro. Deito-me nas ervas. Espreguiço-me.
Uma lebre aproxima-se. Um caracol também. Ao longe vem um grilo aos pinchos.
Mais rápida do que eles, uma vaca lambe-me, hesita e coME-ME.
mva |
18:22|
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