É natal, é natal! ho ho ho! Jesus nasceu and all that. O Natal tem tido um entendimento oficial baseado nos ensinamentos do Cristianismo, esse sistema sócio-político-económico (e às vezes religioso) que conseguiu reinventar a história do ocidente, alterando até o calendário e o modo de contar a história (antes de Cristo e depois de Cristo). A hegemonia deste modo de pensar o mundo espalhou-se a todo globo, e mesmo os que mantêm calendários e divisões do tempo próprias, acabam por ter também que conhecer esta. Que é baseada num suposto Deus que encarnou entre as pessoas (neste sistema patriarcal, habitualmente designadas pelos Homens).
Ora o Natal, é pois outro fénomeno, que se globalizou, celebrando supostamente este nascimento. Contudo este fenómeno de globalização, que permitiu que o natal se celebrasse um pouco por toda a parte, permitiu também a difusão de outras ideias, que poderíamos designar de ateísmos e de agnosticismos, assentes no mínimo na dúvida e chegando à total negação da(s) divindade(s), das quais encontramos traços até na filosofia grega. Com o iluminismo e a tendência crescente para retirar a divindade do centro da história, essas ideias começam a consolidar-se, nomeadamente na crítica materialista ao racionalismo alemão. Para a minha descrença (defini-me como descrente, mais do que ateu ou agnóstico), Marx e Nietzsche foram fulcrais. Marx, pelo modo como reitera o primado de explicações não assentes na razão ou na evolução do espírito para explicar a história e pela demonstração da alienação pela religião. Nietszche pela visão da morte de deus. Ou seja mesmo que tivesse existido algum ser dotado de tudo o que se lhe dizia, deus já teria sido destronado e morto.
Com a tentativa de universalizar o natal, ainda que revestido de significados inesperados, por via da localização cultural, chegámos então à situação de termos descrentes rodeados de natal. Sem acreditarem que nada de especial se passou nesse dia, aproveitando o feriado que se institucionalizou.
Esta falta de coerência entre a cultura marcada pela matriz cristã e as nossas próprias ideias, necessita pois de ser entendida, através da maneira como lidamos com a contradição. Pensando um pouco sobre o assunto, lembro-me de 4 estratégias possíveis para lidar com esta contradição:
-Rejeitar liminarmente qualquer participação em celebrações natalícias e sermos vistos pelos outros como antisociais.com.
-Participar de modo crítico, evitando referências à palavra natal, jesus, vacas, presépio, virgens...
-Participar totalmente, pelo lado capitalista da coisa. Dar prendas, estar na ceia com a família, ir ao shopping enfrentar filas enormes, em nome da reunião familiar
-Ignorar as nossas crenças ateístas ou agnósticas, e fazer árvores de natal, presépios, ver os filmes de natal e se for preciso até assistir à missa do galo.
Há pois vários modos de lidar com a contradição. Ela não tem que ser lida de modo único, nem de maneira exclusiva. Apesar de para muitos, poderem existir normas, somos perfeitamente capazes de as mudar de modo criativo, agindo autonomamente. É que mesmo as normas podem ser sujeitas a uma nova significação e mudando o significado, podemos agir criativamente sobre essas normas. Em relação à norma nataleira, mesmo os descrentes poderão usar estratégias criativas sobre os tempos de natal. Nem que seja, desejando um bom jantar junto das pessoas de quem se gosta.