OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


6.10.04  

Pessimismo ao pôr-do-sol.

Venho de dar uma entrevista para um investigador brasileiro que está a trabalhar sobre o movimento LGBT em Portugal e Espanha. As minhas respostas - mais pessimistas do que optimistas - puseram-me num estado de neura e dúvida. Precisamos urgentemente de algum(a) sociólog@ especializada@ em movimentos sociais, que analise as seguintes questões:

1. Porque não cresce o movimento LGBT, mais e mais depressa?
2. Porque é tão fraco comparado com a Espanha?
3. Porque não há mais gente mediática a fazer coming out?
4. Porque não há representações mediáticas da experiência LGBT?
4. Porque é o movimento tão pequeno e fragmentado?
5. Porque não interiorizam os partidos a agenda LGBT?
6. Porque tem a marcha muito menos gente do que o arraial?
7. Porque é que as propostas de transformação parecem surgir dos intelectuais públicos e de alguns segmentos políticos e não do movimento LGBT?
8. Porque, porque, porque...- considerando a história ainda recente da ditadura (e as suas diferenças com a espanhola), a história dos sucessos e insucessos da democracia, o familismo português, o papel do Estado, da ICAR, dos media e dos partidos e um ror de outras variáveis...

Ao sair da entrevista vislumbrei uma hipótese terrível. E se o termo de comparação adequado para Portugal fosse, em vez da Espanha, a Polónia, a Sérvia, a Grécia, etc? Situar-nos-íamos, assim, numa situação intermédia: as poucas centenas de pessoas nas marchas polacas e sérvias (e etc.) seriam entre nós um ou dois milhares. Os ataques físicos de fundamentalistas e as proibições policiais seriam entre nós inexistentes. Assim como os milhões de manifestantes em Espanha. E os pequenos avanços na Polónia, Sérvia (e etc.), impostos pela UE, seriam entre nós os pequenos avanços promovidos por partidos políticos nacionais e pelo segmento menos medroso do movimento LGBT, mas não os grandes avanços promovidos por partidos - e pelo movimento em massa - na Espanha.

Acho que o meu pessimismo é realista. O movimento surgiu a sério em meados dos anos noventa, cresceu e agora entrou num planalto. Mas os planaltos são preocupantes: segue-se nova escalada ou um precipício?

mva | 19:23|