OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


5.10.04  

Olá e adeus, Engº José Sócrates.

Regressado a Lisboa, não quis perder a primeira entrevista de Sócrates, conduzida por Judite de Sousa na RTP 1. Raramente salto do sofá, motivado pelo que vejo na TV, para escrever logo um post sobre o assunto.

Mas hoje é impossível resistir. Porque a entrevista de Sócrates foi de uma nulidade que ultrapassou todas as expectativas (sim, ainda tinha algumas, positivas, no fundo do baú do optimismo).

Tudo começou com o tom do seu discurso, de uma falsidade publicitária espantosa - no tom de voz, na retórica, no olhar de quem não está ali e não está a acreditar em nada do que diz. A postura de alguém que não consegue falar, com convicção e directamente, com aqueles a quem diz dirigir-se o seu discurso. Talvez porque o seu discurso não se dirija a ninguém. Talvez porque o seu discurso não tenha convicções.

E tudo acabou com a sensação do mais completo vazio de ideias, projectos, princípios, valores, demarcação, entusiasmo ou visão. Político das aparências, modelito de TV, boneco de ventríloquo de um senso comum banal, batido, oco.

Pelo meio, os assuntos em que era necessário tomar posição foram tratados com a técnica da evasão, do desvio, do recurso a uma velha cassete com vagas pretensões a novíssimo CD-Rom.

Dali não virá nada - nada que tenha a ver com um salto civilizacional, de modernidade e progresso. Dali não virão quaisquer "novas fronteiras" - tão somente um velho guarda fiscal a quem algum cripto-católico guterrista tenha oferecido uma brilhante farda nova. Triste, triste, triste. Muito triste.

mva | 21:57|