OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


4.10.04  

Go West (East), young man.

Fronteira 1. Estou fascinado com a expressão "novas fronteiras" de Sócrates. "Fronteira" não tem, em português, a mesma conotação que em inglês americano (com certeza a fonte de inspiração socrática): o que está por conquistar, o espaço "livre" a Oeste, depois metaforizado para toda a ideia de progresso e inovação. Entre nós, o significado europeu tem mais força: fronteira mesmo, como em fortaleza-Europa, contenção da imigração, etc.

Fronteira 2. Mas o mais curioso é ouvir esta expressão nos dias que correm (refiro-me aos casamentos espanhóis, assunto a que tenho dedicado muita atenção, não só porque o acho universalmente importante, mas porque vou começar pesquisa em Espanha sobre o assunto - fica revelado: a partir de 2005 devo postar desde Barcelona!). Num exercício de praia muito pouco científico listei rapidamente as regiões de Espanha que fazem fronteira com Portugal: Galiza, Castela e Leão, Extremadura e Andaluzia. Ou seja, as menos desenvolvidas de Espanha, fora do eixo industrial e urbano já consolidado desde o século XIX, que vai do País Basco à Catalunha, com o desvio para a capital madrilena. O nosso país, em rigor, está para lá (para cá) dessa frontier...

Fronteira 3. A não ser que Sócrates esteja a querer mobilizar o imaginário das descobertas, do Atlântico, e por aí fora. Deve ser isso, porque esse imaginário cheira tanto a mofo, que só mesmo um Jaime Gama poderia liderá-lo. Sócrates não percebeu que não há novas fronteiras. Há, sim, "velhas" fronteiras que ainda não alcançámos e que competiria a um PS tentar alcançar: as fronteiras de uma verdadeira social-democracia. O exemplo está aqui ao lado, passando Badajoz e seguindo um pedaço para Leste.


mva | 13:21|