8.9.04
Tudo tão assustadoramente normal...
Nova Iorque, Madrid, Beslan... Deixemos por momentos de lado as contextualizações históricas e sociológicas para os terrorismos. Ou as manipulações demagógicas do mesmo por Bush, por Putin ou pelos neo-cons à portuguesa. Nestes ataques ocorre-me sempre pensar, isso sim, o que leva alguém a participar num ataque terrorista.
O uso da violência não é (infelizmente, e ao contrário do que gostaria Gandhi) uma questão a preto e branco. Há violências baseadas em movimentos de libertação (para evitar polémica, um exemplo seriam as resistências anti-nazis); há violências baseadas na "guerra legal" entre Estados; há violências inter-pessoais por vezes inevitáveis, como no caso da auto-defesa. Em todos estes casos, há sempre uma tentativa de construção ética, de modo a definir uma escala que vai do legitimável ao inadmissível. Por exemplo, só se ataca o inimigo armado, não se atacam civis, etc. Muitas destas "éticas" têm pés de barro, como as guerras feitas pelos exércitos "legítimos" dos Estados (onde de facto se matam civis...). Seja como for: enganadas ou não por ideologias, crenças, patriotismos, pressão social ou "sentido do dever", essas pessoas fazem o que fazem enquadradas por códigos de conduta, sistemas de sanções e legitimações sociais abrangentes.
Mas o que leva alguém a atacar umas torres com centenas de trabalhadores lá dentro? O que leva alguém a atacar um comboio cheio de passageiros? O que leva alguém a atacar uma escola cheia de miúdos? There are some seriously fucked-up people out there; but this seriously?
E é esta ausência de explicação que nos deixa atordoados. A não ser que estejamos perante um desvio diferencial, uma pequeníssima inclinação que faz com que, a partir de algo "normal", o "Anormal" com A grande despolete. O soldadinho que acredita que cumpre um dever perante a pátria, integrado no exército fardado da sua Sildávia ou Bordúria, desvia-se um nadinha e ei-lo a Cumprir um Dever perante a Pátria... e por aí fora....
mva |
02:13|
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