OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


29.9.04  

Farrapos.

Andam por aí centenas de carros com farrapos de bandeiras nacionais. Vários ostentam mesmo uns fiozitos esgarçados cuja origem só é conhecida por quem esteve em Lisboa durante o Euro 2004. De centenas de janelas debruçam-se panos vagamente verdes e vermelhos embebidos de monóxido de carbono, fuligem e os restos de chuvas ácidas. Definham tristemente como aqueles lençóis que, em países remotos, ostentam sangue de galinha para fazer as vezes da prova de virgindades perdidas em noites de núpcias. Envergonhados, superticiosos ou simplesmente negligentes, os donos dos restos de bandeiras fazem, sem o saberem, uma performance pública do esgotamento nacional. Coisa inadmissível se a queimassem em praça pública, como ficou a saber aquele rapaz preso na manif anti-touradas.

mva | 16:43|