OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


20.9.04  

Diário.

A propósito da entrevista de ontem: há muito que carrego uma sensação de ambiguidade, ou de pisar o risco, ou de hibridismo meio-perigoso. De cada vez que aposto na parte militante, a parte académica "sofre"; de cada vez que aposto na parte académica, a parte militante "sofre". Isto é: o pensamento das ciências sociais é crítico e, por isso, põe em causa as "crenças" da militância, sobretudo a que tem a ver com a política da identidade, como o movimento lgbt; e o movimento social é político e, por isso, perturba a atitude mais "distanciada" do pensamento científico. Isto é um problema no curto prazo. Mas no longo prazo é óbvio que os dois se fertilizam mutuamente. Só que não consigo deixar de sentir sempre o mesmo ligeiro mal-estar: «oops, cá estou eu a deixar de ser antropólogo» ou «oops, cá estou eu a ser antropólogo demais».

Anyway: já dizia o velho Marx que sem contradições isto não ia lá... Também dizia que os filósofos pensam o mundo mas que "agora" o que é preciso é transformá-lo (enfim, acho que é preciso as duas coisas, algo que, aliás, o velhote também dizia, a propósito do mútuo feedback entre teoria e prática...).

mva | 18:33|