OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


14.9.04  

The bourgeoisie and the rebel.

Ontem fui à missa e gostei muito. O concerto de Madonna encheu as medidas. Curiosamente, por causa daquilo que outros poderiam considerar defeitos - quer do género musical em si, quer do percurso da artista em causa. A saber: o que Madonna apresenta é um espectáculo-pacote, uma perfeição teatral, musical, coreográfica, videográfica, etc. Não há verdadeiro contacto com o público, formatação para o local do concerto, improviso ou sequer "encore". Esta frieza agrada-me, porque se apresenta honesta, porque é o que ela quer dar e tem para dar. O prazer que senti foi o prazer de ver um espectáculo perfeito e não um evento. Em segundo lugar, a questão de supostamente estar a ficar menos rebelde, a deixar-se permear por religiosidade ou a perder energia. Ora, o cálculo milimétrico de formas de gerir a distância entre uma imagem feita no passado e aquilo que ela pode/quer fazer foi, também ele, perfeito. Ela reinventou-se, como indica o nome do "tour". Sobra, assim (e paradoxalmente) um imenso espaço para a apropriação simbólica e a identificação por parte dos espectadores: gostar de Madonna é como a frase "music makes the bourgeoisie and the rebel...", que não termina.

PS: O concerto começou atrasado. Santana Lopes começou atrasado. depois de ter chegado, o concerto começou. Deve concluir-se alguma coisa? Seja como for, o Coiso não-eleito foi devidamente vaiado.
PPS: Finalmente fiquei a conhecer TODA a propalada "comunidade" gay de Lisboa, a tal que nunca aparece na marcha e "nessas coisas exibicionistas".


mva | 15:37|