OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


10.8.04  

Momento de filosofia.

Um conhecido jornalista de um conhecido canal foi entrevistado por uma conhecida jornalista de outro conhecido canal do mesmo empório. Já de si, a coisa é gira. Mas mais engraçado foi assistir a esta espécie de festival de cumplicidades e sorrisos entre colegas com que as TVs nos premeiam, numa espécie de "entre em nossa casa e partilhe a nossa vida". Pena é que a dita vida não tenha a mais remota ponta de interesse. No caso em causa, o conhecido jornalista (com o entusiástico apoio da conhecida jornalista) entusiasmava-se com a sua própria capacidade de desfiar lugares-comuns, ideias-feitas e clichés, plenamente convencido de que estava a apresentar uma pessoal e inovadora perspectiva das coisas, uma filosofia de vida, um "olhar" pessoal. Querem exemplos? Pois bem: falou de "como somos latinos e mediterrânicos" para explicar o modo de ser e trabalhar; revelou a capacidade de desenrascar como o grande segredo (e, claro, qualidade) nacional; referiu o amor pelo local de origem usando expressões como o gosto de "mexer na terra"; referiu várias vezes os originalíssimos ícones do "Alentejo" e do "Mar"; e, como não podia deixar de ser, contou-nos da sua descoberta de como "Lisboa é linda" (e, sim, sim, adivinharam, a razão para tal é... - tã-tã-tããã! - a LUZ!). Confesso que me desiludiu um bocadinho, porque não falou dos Descobrimentos, do Euro 2004 ou do clima (oops, chove lá fora neste momento...).

mva | 11:16|