OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


6.6.04  

Zamba.

Entre o cheiro a estevas e o cheiro a algas, meia dúzia de casas branco-Alentejo e, mesmo assim, algum cosmopolitismo. É a Zamba, nome de guerra que não sei se já alguém lhe deu. A preparar-me para, daqui a dias, corrigir cerca de 100 trabalhos de 15 páginas cada - o que os mais cínicos poderiam chamar de "produção em massa de conhecimento"... A partir de agora, seja como for, a vida será entre LESBoa e Zamba, transformadas assim, pelos nomes, em cidades imaginárias.

Dois dias, quase, a lavar chão, limpar pó, arrastar móveis, matar mosquitos. E ainda dizem que os intelectuais não fazem mais nada que não seja pensar... Depois, o prémio de uma prainha hoje absolutamente privativa para dois - um paraíso de rochas onduladas, cores terrosas, mar translúcido. A ler A Louca da Casa, de Rosa Montero: muito aconselhável.

Entretanto, lá fora vão acontecendo coisas. As mulheres, graças à deusa, reagiram em força às barbaridades da Corporação Médica sobre quotas para homens; Reagan morreu, embora Bush e Schwarzenegger continuem viçosos; a França entrou na Rayvolução Matrimonial (pena é que os media de cá não tenham dado tanta atenção a um processo bem mais interessante e bem feito, o americano...); e a campanha alegre para o PE continua.

A propósito de campanha, não sei como justificar a mim e aos outros a minha ausência e o meu progressivo auto-afastamento de cargos de decisão no Bloco. Sobretudo em tempos de absoluta necessidade de luta contra a direita. Vou provisoriamente consolando-me com a seguinte justificação: embora ache que a política partidária é ou deve ser uma actividade nobre da democracia (opinião bem minoritária) , tenho descoberto que há coisas para as quais não somos dotados (e isso só se sabe depois de se ter tentado - e muito) e que nos roubam tempo e cabeça para fazer aquilo para que somos de facto dotados (que é quase sempre aquilo em que somos bons e aquilo em que temos prazer). Há sem dúvida formas e formas de fazer política.

A explicação vale o que vale e a experiência e a consciência não tardarão a dar o seu veredicto sobre a validade das escolhas... A Zamba também serve para fazer balanços - mas seja como for não deixarei de conduzir 3+3 horas para ir votar.

mva | 18:52|