3.6.04
VISTO.
Queer Noir.
Fui ver o Almodóvar a seguir a ter postado o Hockney... Curiosa coincidência. Até porque posto pinturas quando tenho "silêncios mentais" e ocorrem-me imagens que imediatamente me conduzem a quadros específicos cá na minha pinacoteca cerebral...
La Mala Educación, portanto: filme muito bom. A brincadeira com o género noir resulta no que poderia chamar-se queer noir, pois Almodóvar joga com a sexualidade e as personagens numa esfera para lá das categorias. Ele está em Espanha, dentro de Espanha em Madrid e dentro de Madrid na crista cosmopolita que lhe permite pensar e fazer filmes para lá da preocupação pedagógica ou política. É por isso que não importa que o padre pedófilo se transforme em homossexual no armário mais tarde na vida; ou que a sugestão do amor entre os miúdos como algo de positivo versus o seu ódio ao assédio do padre de que um deles é vítima não seja apresentada como um "programa" sobre a separação entre homossexualidade e pedofilia; ou que Ignacio acabe sendo transexual. Almodóvar não vive cá, na pia casa portuguesa, onde seria difícil fazer este filme, hoje.(O que me leva a temer como a maior parte do público absorverá este filme...). Mas, é claro que estas questões não se resumem à pobreza de uma comparação entre contextos: Almodóvar é um cineasta maior, universal e, por isso, diz, mostra e faz exactamente o que tem a dizer, mostrar e fazer.
E, depois, é um filme lindo plasticamente, como é lindo Gael García Bernal - o meu mergulhador do Hockney antes de o ser...
mva |
23:58|
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