OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.6.04  

A manif SMS.

Gostei muito da manifestação convocada por SMS. O ambiente era aguerrido mas também divertido. As palavras de ordem, inventadas ali, também: "Chega de golpadas, eleições antecipadas"; Santana 1 2 3, vai pró túnel do Marquês"; "Isto não se faz, vai-te embora Santanás"; "Santana sai de perto, isto não é bar aberto". Os gestos, idem: ambas as mãos no ar abanando os dedos, ou toda a gente chocalhando os seus chaveiros.

A polícia chegou e devia ter ordens expressas de não criar problemas (perante o que, legalmente, era uma manif não autorizada). Mas eis senão quando decide parar um carro que passou buzinando em apoio à marcha. Porquê? Para multá-lo! (vide buzinadelas futebolescas...).

Escandoloso, cada vez mais, é o comportamento da comunicação social. Disseram-me que a TSF noticiou 200 ou 300 pessoas. De facto, estavam mais do que na Marcha lgbt que, segundo a comunicação oficial do comando da PSP, teve mais de 3000 pessoas (contrariando as 400 dos media). Das duas uma: ou estamos com jornalistas iletrados, incapazes de visualizar o espaço dividido em quadrículas, contar as pessoas numa delas e multiplicar o resultado pelo número daquelas (o que significará que os cursos de comunicação social estão com sérios problemas de qualidade e/ou as condições de trabalho nos media); ou estamos face ao verdadeiro domínio dos grandes grupos, como a Lusomundo ou o império Balsemão (o que significará que meios de informação alternativos e de menores custos, como os que se podem fazer na Rede, são precisos).

Um dos traços mais curiosos da manif foi o tipo de pessoas. Era bastante evidente a proveniência de camadas socio-económicas abastadas. Quase se poderia dizer que a "burguesia" se revolta contra a indecência anti-democrática, simbolizada na figura berlusconiana de Santana Lopes. Isto é muito bom sinal.

Horas depois, ouvi atónito PSL (e não Durão, silencioso na desculpa da Turquia) comunicar ao país que o PSD zelará pela estabilidade e o cumprimento da lei. Sampaio admite isto? Admite que o Santanás passe ao povo a ideia de que é ele quem tem os destinos do país na mão, que é ele quem detém a responsabilidade pela estabilidade? Admite que se apresente, para todos os efeitos, como primeiro-ministro, já para não dizer presidente?

(Às vezes só tenho pena que não seja possível ir ao Arquivo de Identificação e ao Governo Civil entregar o meu BI e passaporte, preenchendo um requerimento para deixar de ser português. Como não posso - a nacionalidade é, pelos vistos, uma identidade-prisão (e deve ser por isso que é tão querida dos conservadores...)- só resta "sair à rua e gritar":


Mais manif na terça, 29, às 19h

mva | 01:20|