14.5.04
VARIA.
*Pacheco Pereira lança o contra-ataque às denúncias da tortura de prisioneiros no Iraque relembrando as torturas no Verão quente pós-25 de Abril. Para quê? Para dizer que a esquerda tem telhados de vidro no assunto. Não percebo. É claro que aqueles actos foram intoleráveis. E é claro que quem os cometeu deveria ser julgado. Mas em que é que isso retira gravidade ao que está a acontecer no Iraque?
*Lula expulsa um jornalista do New York Times do Brasil. Para tal recorre a uma lei do tempo da ditadura militar. Das duas uma: ou Lula estava mesmo bêbedo, ou o projecto político em que se depositava esperança já morreu de vez.
*Já perceberam o horror que aí vem? Reposição de fronteiras, leis especiais, limitação de liberdades, vigilância policial de todos os tipos. Para não falar do horror já instalado: bandeiras nacionais vendidas em pacotes Luís Figo por grandes empresas de comércio a retalho. É o nacionalismo, o futebolismo e o capitalismo de quitanda unindo os seus esforços (ou tornando claro que sempre uniram os seus esforços...).
*Uma reportagem sobre a Estónia mostra como um terço da população, os russófonos, não tem cidadania e não consegue obtê-la se não passar num exame de língua estónia. A ministra dos estrangeiros local acha isso normal. Aparentemente, na Estónia cultiva-se muito a língua, o folclore, as "tradições", numa espécie de nacionalismo de pequeno país, um pouco à maneira da Sildávia do Tintim. Esta é uma velha tradição europeia, iniciada depois da queda do Império Austro-Húngaro, promovida por escritores românticos e antropólogos de há 100 anos. Triste é constatar que tanta gente ache normal que, no século XXI e na UE, a cidadania passe pela nacionalidade, e a nacionalidade se defina pela consonância a um padrão que só existe na pequenez das cabeças.
*Parece que vai haver uma fundação de investigação médica (liderada por Leonor Beleza!) com dinheiros de Champalimaud. Agora não se riam e leiam o nome: "Fundação Dona Ana de Sommer Champalimaud e Doutor Carlos Montez Champalimaud". É a FDASCDCMC. Imaginem um candidato americano a escrever o nome da coisa; ou a procurar o site da coisa. Não era melhor algo como "Fundação Com Os Nomes Dos Meus Pais Para Perceberem Como São Pomposos E Como As Elites Portuguesas Vivem Na Idade Média"?
mva |
13:29|
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