OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


23.5.04  

Quem se comove com as fotos de tortura não é homem nem é nada.

Leiam o editorial de hoje do Director do Público. Termina com a seguinte prosa: «Aceitar porém que a batalha está perdida na retaguarda é ceder à fraqueza (...). Porque estes são de facto os momentos em que se distinguem os que abandonam o barco dos que lutam até ao fim, mesmo quando a vitória parece impossível. Por isso, aos que fraquejam, recomenda-se a leitura de "Five days in London", de John Lukacs, onde se relatam as discussões no interior do gabinete de guerra britânico em Maio de 1940, depois da capitulação da França e da retirada caótica de Dunkerque. Debatia-se a hipótese de um armistício, cenário que, se nesse tempo se realizassem sondagens, teria por certo a preferência dos ingleses. Depois de violentos debates, Churchill ganhou e o Reino Unido não atirou a toalha. O resto da história é conhecida.»

Tudo parece resumir-se à velha retórica machista de homens que se aguentam versus homens que fraquejam; tudo parece resumir-se à velha retórica competitiva e bélica do ringue de boxe; e tudo é coroado com um exercício de ilógica, quando 1940, Churchill e Europa servem de termos de comparação (e legitimação) para 2004, Bush e Iraque.

mva | 12:25|