OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


30.5.04  

Quando for (mais...) velho quero ser como ele.



Hoje fui ajudar uma colega a entrevistar o antropólogo Sidney Mintz para a revista que dirijo, a Etnográfica. Mintz revelou-se um daqueles americanos que me fascinam. Os pais emigraram para os EUA, vindos de um país do Leste da Europa. De origem humilde, revolucionários, instalaram-se numa cidade de New Jersey. A mãe era sindicalista e o pai cozinhava no seu próprio pequeno restaurante. Mintz acabou por fazer o curso com a GI Bill (programa que permitia aos soldados frequentarem a universidade a custos baixos). Foi comunista, apanhou com o McCarthyismo em cima, fez pesquisa em Porto Rico, Jamaica e Haiti, e sempre defendeu uma junção entre o materialismo histórico marxista e a noção antropológica de cultura. Trabalhou com modelos e temáticas que hoje muita gente pensa estar a inventar a partir do zero: História, economia política, colonialismos, histórias de vida, cultura material, crioulização... Mas o que eu gostei mesmo nele hoje foi da energia, do prazer ao falar dos estudantes, da gratificação do acto pedagógico, da preocupação com as pessoas, com as circunstâncias das suas vidas, da necessidade de uma visão do mundo baseada em ideiais de justiça e equidade. Em suma, passei a tarde com um verdadeiro mensch, a palavra iídiche para definir... Pessoa.

mva | 20:43|