OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.4.04  

O sonho da globalização (ou da blogalização?).

Conversava com duas amigas que me diziam que nem sempre percebem certas referências ou alusões nos meus posts, e que por vezes têm dificuldade com algumas expressões inglesas. Outras pessoas queixar-se-ão de outras referências e muitos leitores que sabem português mas não o têm como língua materna (ou que não vivem em Portugal) queixar-se-ão de outras tantas expressões. E por aí fora. Qualquer cenário de comunicação tem estes problemas. Mas nos blogs a coisa exponencia-se. É fascinante a sensação de pioneirismo que todas as pessoas que se metem na net sentem: noções de comunidade, língua, país, geografia, referências, ficam relativizadas pelo carácter global do meio. Acabamos por ser nós, os autores dos blogs, a definir as fronteiras. Mas como somos, em princípio, acedíveis (diz-se assim?) em todo o lado, a língua acaba por ser o primeiro e grande filtro; depois, o espaço nacional; depois as referências identitárias de outro tipo. Isto é o que acontece, repito, com qualquer acto de comunicação escrita, só que aqui exponenciam-se as dúvidas e sobreposições. Às vezes sinto um desejo enorme de escrever de forma absolutamente híbrida (em inglês e português - mas não em zulu e mandarim, é certo...) e de saber quem são exactamente as pessoas que aqui passam, por que ficam ou voltam, o que poderiam contribuir. Uma comunidade virtual seria isso mesmo. Mas quanto mais especulamos sobre isso mais nos apercebemos da força e a resistência das categorias territoriais e linguísticas com que funcionamos.

mva | 15:44|