16.3.04
VISTO (mesmo).
A luz na pérola forma um coração
Girl with a pearl earring.Passei muito tempo à espera dum filme assim. Poderia escrever páginas sobre ele. Sobre o retrato de época; sobre a forma como o filme é feito como se fosse ele mesmo um Vermeer; sobre as reconstituições de outros quadros que surgem no filme; sobre a inteligência e economia com que o mistério do retrato pintado é mantido, mantendo silêncio sobre a psicologia da rapariga; sobre as lições do olhar; sobre os conceitos de obscenidade da época; sobre o atrevimento do retrato de um(a) indivíduo(a), para lá do retrato da figura social e do seu estatuto; sobre como realizador e argumentista souberam não introduzir um caso amoroso "típico"; sobre como tudo é encenado subindo e descendo, escondendo e revelando, escurecendo e iluminando as divisões daquela casa de Delft; sobre a sensualidade cromática e textural de beterrabas, couves roxas e ingredientes para as tintas; sobre uma música lindíssima que transporta a narrativa; sobre o que era viver num mundo sem fotografia e muito menos com cinema e poder sentir a revelação da pintura; sobre como é possível tornar a sentir a revelação da pintura. E sobre esse achado ao mesmo tempo irónico e surpreendente que é o plano da Johansson-rapariga-com-brinco-de-pérola ser tanto ou mais belo que a rapariga de Vermeer...
Repousem sobre estas imagens, então:
mva |
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