OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


24.3.04  

Vagabundos.

Já não me apetecia muito ler para não correr riscos de me irritar. AGora ainda menos me apetece ir ver a peça...:

«VAGABUNDOS DE NÓS - LIVRO DE DANIEL SAMPAIO EM TEATRO NO MARIA MATOS. Da mesma forma que, no livro, há um apagamento do sofrimento do filho homossexual (que é afinal quem se suspeita ter-se suicidado) em favor do sofrimento da mãe (que sobrevive) também na peça os poucos momentos em que o sofrimento do filho tem realmente voz são suplantados cénicamente pela voz e personagem da mãe. Além de silenciar o desejo e sofrimento homossexuais o livro tem ainda o desplante de apresentar como único período feliz do personagem gay aquele em que teve um namoro heterosexual; a peça nem sequer menciona o namoro homossexual da personagem. Daniel Sampaio e Luís Osório (encenador) perderam uma excelente oportunidade para promoverem a consciência social do sofrimento dos adolescentes lgbts, que têm uma taxa de suicídio três vezes superior à dos adolescentes hetero, e limitam-se a reforçar estereótipos: 1) o de que todas as mães de filhos lgbts não podem senão sofrer (não considerando sequer que há pais que compreendem e lutam pelos seus filhos, com orgulho); 2) o de que não há namoros homossexuais felizes e adolescentes
homossexuais felizes 3) e também o estereótipo simplista de que os gays são sensíveis, gostam de pintura, música clássica, vestidos de mulher e flamingos!!!! Um escândalo de desinformação e preconceito é o que esta peça e este livro são. E uma afronta a todos aqueles que são e foram vítimas da homofobia familiar!(...)» (retirado do boletim da Opus Gay).

mva | 23:16|