OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


31.3.04  

Saramago blank.

É difícil falar de Saramago. Desde logo porque não gosto dos seus livros (excepto a Jangada de Pedra, mas pelo conceito). E, depois, porque não simpatizo com a figura público-política. Isso torna difícil falar da obra, porque 1) a minha opinião fica logo enviezada e 2) porque acabo por não ler os seus livros ou 3) porque não acabo de ler os seus livros.

Mas é espantoso como os mesmos são lançados através de uma estratégia publicitária (perdoem-me, amigos da Caminho, que tão generosamente não só me editaram como proporcionaram que ganhasse um prémio...) que vive da polémica política que o tema do livro possa gerar: foi assim com o Evangelho, é-o agora com a Lucidez.

Saramago, além de candidato do PC às Europeias, é agora também militante do voto branco como forma de protestar contra o estado da democracia "burguesa" (ele já não usa esta expressão mas bem que poderia). É claro que a democracia está em mau estado. É claro que ela precisa de ser aprofundada. É claro que ela tende cada vez mais a ser eleitoral mas não social, económica e cultural. Mas o voto em branco, sobretudo resultante de uma mobilização a seu favor, não é a solução - como não o foi a revolução, a ditadura do proletariado ou qualquer outra refundação total e absoluta do mundo. Saramago, desesperado com o fim do projecto comunista e das "soluções" refundadoras em que viveu toda a sua vida, resvala para o "anarquismo". Nunca uma associação de palavras (lucidez=branco) foi tão errada.

mva | 22:03|