OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


27.3.04  

Orientalistas e Fundamentalistas.

Ao contrário do que aconteceu a seguir à invasão do Iraque, ou a seguir ao 11 de Setembro, o debate após o 11-M está um pouco (um pouco) mais elevado. Outro dia Pacheco Pereira escrevia um artigo sobre o tema do niilismo terrorista; e um ou dois dias depois, Prado Coelho referia os estudos que localizam os terroristas actuais no cerne da modernidade. Em suma, os terroristas de agora não lutam por causas nem para transformar o mundo, mas destroem(-se) porque sentem que o mundo não tem transformação possível. Verdadeiros indivíduos, verdadeiros modernos, verdadeiros niilistas.

Isto é muito discutível, é claro. Mas pelo menos desvia o debate do novo Orientalismo que corre pela imprensa e que tende a estabelecer uma dicotomia maniqueísta entre Nós e os Outros, que esquece o quanto de Outros Nós temos (hello: o nazismo, o estalinismo...) e o quanto de Nós os Outros têm (Estados resultantes do colonialismo, por exemplo). Nisto, Orientalistas ocidentais e Fundamentalistas islâmicos partilham da mesma lógica.

É simultaneamente com os xeques Yazin e os Sharons, os Bush e os Bin-Ladens, que temos que cortar. Não nos podemos deixar enredar na "lógica" que eles partilham. Gostaria de pensar que foi isso que os eleitores espanhóis quiseram dizer.

mva | 12:55|