19.3.04
MEDIAWATCH.
Uma vez por ano - no máximo duas - Fátima Bonifácio publica um artigo de opinião no Público. Desta feita o esforço teve como objectivo "demonstrar" que o voto dos espanhóis foi mesmo cobarde e foi mesmo uma cedência aos terroristas. Quando se usam argumentos destes, dá vontade de usar os seus simétricos, baseados na mesma ilógica: se não tivesse havido 11-M em Madrid, os espanhóis teriam continuado a ser enganados pelas mentiras de Aznar. Interpretar votos apenas em função das agendas ideológicas é dizer que a democracia não serve para nada. Por isso não concordo sequer com o discurso dos meus "correlegionários" sobre a "coragem" do voto dos espanhóis. O que eles fizeram foi honrar a democracia, porque pelos vistos já a interiorizaram bem. E o anúncio de Zapatero sobre a retirada das tropas também confirma isso: é justamente porque uma democracia não pode estar refém de terroristas que se pode anunciar, quer dê jeito quer não, quer fique bem quer não, aquilo que se pretende fazer e em função do que se prometeu fazer.
Na mesma edição, José Cutileiro diz que a política externa portuguesa é sempre uma política de afastamento da Espanha e de consideração do outro lado do Atlântico. E que a política externa espanhola regressa, agora, ao seu europeísmo. Nota-se no artigo que isto não é propriamente visto como uma coisa boa. A direita e a neo-direita portuguesas não gostam, no fundo, da Europa. E agora descobrem uma maneira atavicamente nacionalista de o dizerem: gostar da Europa é gostar de Espanha.
A mudança política em Espanha é o começo do fim da neo-direita europeia. E pode bem ser o início de uma forma mais inteligente de combater o terrorismo. Pelo menos a Espanha viu-se livre de quem precisa do terrorismo para legitimar a enorme perversão que é um Estado superforte no controle das liberdades e superfraco no controle da injustiça social e económica.
mva |
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