OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


27.3.04  

Civilizar, perdão, desenvolver.

Um aluna minha acabou longo trabalho de campo em Timor Leste. Conseguiu trabalhar junto das organizações da ONU no território e junto do próprio Estado. Confirmou uma das suspeitas mais correntes nos últimos tempos: que os modelos de ajuda ao desenvolvimento continuam a lógica colonial. Aparentemente, os portugueses (mas o mesmo se poderia dizer de australianos e outros) que lá estão ganham cinco vezes mais do que em Portugal; muitos assumem que estão "a fazer dinheiro para comprar uma casa" (em Lisboa, claro). Os seus salários são pagos pela administração em Timor, com o dinheiro que lhe é dado pela "ajuda" portuguesa. Muito provavelmente esses "ajudantes" acham, com sinceridade, que o dinheiro compensa as dificuldades de viver longe, no terceiro mundo e que, de qualquer modo, o seu trabalho ajuda ao "desenvolvimento". Noutros tempos, muitos funcionários coloniais achavam sinceramente que estavam a contribuir para a "civilização".

mva | 12:47|