OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


27.3.04  

Autocarro.

Descobri há pouco um autocarro que - sorte das sortes - me leva de casa à faculdade num instante. Ao contrário do que é portuguesmente comum, nunca senti que o carro me desse "liberdade" ou "autonomia". Sinto-me constrangido por tudo o que um carro na cidade significa: conduzir no meio de loucos, procurar estacionamento, apanhar com engarrafamentos, não conseguir cumprir horários, stressar. Com os transportes públicos (normalmente o metro, pois os autocarros não são de fiar) faço tudo mais calmamente mas, sobretudo, sinto-me mais cosmopolita: ando a pé nas ruas duma cidade a caminho da paragem ou estação, vejo as pessoas e as faunas duma cidade nos transportes, vou ouvindo pedaços de conversas, em suma, vou tomando o pulso à polis. E ainda aproveito para ler. Não é, no fundo, este o modo de fazer as coisas nas verdadeiras cosmópolis, como Paris, Londres ou Nova Iorque, onde não passa pela cabeça de ninguém andar de carro? Quando me atrevo a andar de carro na cidade, durante o dia, para os percursos normais, sinto imediatamente que estou em Caracas.

mva | 13:06|