OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


8.2.04  

Sunday evening blues.



Dou comigo a estranhar-me. Isto é, apercebi-me que há já alguns posts que não faço comentário político puro e duro. Talvez isto queira dizer que não tenho mesmo inclinação para a política, isto é, o tipo de atenção constante aos acontecimentos e notícias que envolvem a actuação dos ocupantes dos cargos políticos, as suas decisões, conflitos, etc. Do ponto de vista anímico, estas coisas têm altos e baixos, é claro. E a atenção varia com outras prioridades da vida. Mas é justamente isso: quem se preocupa mesmo com a "política", tem menos esses altos e baixos, tem menos essas variações de prioridades. Já estive em cargos mais importantes na política formal. Tenho vindo a diminuir o investimento e a autoexcluir-me. Acho que o tenho feito com honestidade (ser verdadeiro consigo mesmo, é o que eu acho que o palavrão quer dizer). O princípio é simples: investir no que se sabe fazer bem e com gosto resulta mais positivo para o próprio e para os outros.

Mas um bichinho (o diabo no ombro esquerdo do capitão Haddock, ou o anjo no ombro direito? Ou vice-versa?), vindo lá ainda do 25 de Abril, acho, faz-me sentir um pouco de "culpa". Isto se calhar deve-se a uma coisa mais religiosa do que política: como não tive nenhuma educação católica e a única religião a que fui exposto foi o judaísmo (quando vivi aos dezassete anos com uma família judia americana), a guilt marca-me mais do que a facilidade de lavar o pecado através da confissão...

(Oops, eis senão quando, o que estou a fazer é uma confissão...)

Regressando à política e relativizando: o que me acontece neste momento é que o que leio nos media sobre "política" me aborrece tremenda e visceralmente. Desmerece-me respeito. E, no entanto, estamos a viver um dos piores momentos da democracia portuguesa - o triunfo da direita no seu fulgor reaccionário, que é quando se mascara de (ultra)liberalismo (porque "liberal" é invariavelmente uma palavra simpática). Culpa, culpa, culpa.

("Mas com o trabalho que te espera a partir de segunda feira, isso passa, deixa lá" - diz o diabrete. Ou o anjolete.)

PS: Já tinha escrito este post quando li um comentário de "Anonymous" a dizer que não volta mais aqui porque escrevo demasiado sobre homossexualidade. Diz ele ou ela que pensava que eu era mais "equilibrado". Bem, com acusações de "desequilíbrio" posso eu bem (e podemos nós, historicamente, bem). Mas talvez "Anonymous" ( que é bem mais do que um nick, é todo um programa) devesse pensar um pouco sobre o significado psicológico do seu... anonimato. Seja como for, é sempre bem-vind@, se alguma curiosidade mórbida @ possuir... Assim como espero que venha a fazer comentários que sejam mais comentários e menos birras.

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