OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


29.2.04  

Mais Bloco de Esquerda.



Pertenço a muitas formas associativas: partidárias, como o Bloco; de movimentos sociais, como o lgbt (sou sócio da ILGA Portugal, por exemplo); profissionais/científicas (na área da antropologia); sindicais (SNESup); e, por defeito, ao condomínio onde moro (ah: sou também cidadão da República Portuguesa, mas essa não escolhi).

É esta diversidade - que não significa nem separatismo entre cada parte, nem contaminação completa entre elas - que enriquece a vida colectiva e que, já agora, me enriquece (no sentido de "sinto-me enriquecido por ela").

Isto para dizer o quê? Que não subscrevo o discurso da novidade absoluta, salvífica, fantástica, originalérrima, do Bloco no quadro político-partidário. Nem quando esse discurso é feito pelo BE, nem quando isso é esperado ou exigido cá fora. Mas também não subscrevo o discurso que diz que o Bloco prometeu e não cumpriu, que "afinal é igual aos outros".

Porquê? Porque acho que um partido político é um partido político, e não tenho grandes ilusões quanto a isso. Serve para o que serve. E outras coisas servem para outras coisas. Nisto não concordo com muitos dos meus colegas do Bloco, e sou tido como uma pessoa "menos movimento e mais partido", além de pertencer ao que eu próprio classifiquei, auto-ironicamente, como "a direita da esquerda (que não é o mesmo que dizer a esquerda da direita)".

Ao fim de cinco anos, continuo no Bloco. Invisto menos do que investi, observo mais do que participo. O que também não me dá muita autoridade para criticar aquilo que não ajude a mudar ou que não impeça de mudar. Faço agora mais política por outros meios - meios que domino melhor (no sentido de ter mais capacidades para), onde posso contribuir melhor, onde tenho mais prazer (e estas três coisas ligam-se). Mas continuo a achar fundamental que no sistema político-partidário e representativo português exista um Bloco. E que, no PS, no PC, nos Renovadores Comunistas, no Partido da Terra, ou onde quer que seja, existam pessoas com ideias como as que fundaram o Bloco e como as que germinaram a partir dos encontros que nele se deram. As propostas e actuação política do Bloco têm o que o PC nunca soube/quis fazer e o que o PS tinha obrigação de saber/querer fazer.

Enough party politics for now. Voltarei ao tema no sexto aniversário.

mva | 16:04|