OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


7.1.04  

Transtornados

Esta notícia no Público de hoje é um verdadeiro estudo de caso. O Comité Olímpico Internacional decidiu que @s transexuais poderão participar nos Jogos Olímpicos de Atenas. O médico do COI apenas é citado como dizendo, de forma meramente informativa, que tal acontecerá. Mas quando o Público contacta José Espírito Santo, médico da equipa portuguesa, passamos da Luz para as Trevas. Embora aceite que @s transexuais participem, e ache bem o seu reconhecimento social, para ele, "um transexual não tem estabilidade psicológica para participar em alta competição" e os homens que fazem estas operações são "muito femininos e, por isso mesmo, não se interessam pelas competições desportivas". Este é um exemplo do fosso que ainda separa a chamada tolerância/aceitação, de uma verdadeira compreensão dos mecanismos do género e da orientação sexual. "Estabilidade psicológica" e associação entre feminilidade e certos gostos e interesses: eis dois estereótipos usados para medicalizar os "desvios" e para reproduzir o género.

Ficamos, pelo menos, a saber duas coisas, implícitas naquelas afirmações: que o médico e os atletas da equipa portuguesa são psicologicamente estáveis e que são muito masculinos porque gostam de desporto e gostam de desporto porque são muito masculinos. O que, obviamente, cria um enorme berbicacho às atletas portuguesas...

Já agora, novo link, para a @t

mva | 12:53|