OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


18.1.04  

Quirida, mi siduza com o erotismo de seu corrrpo...

Quando referi a tal tese de mestrado sobre "ampulhetas", aquilo tinha a ver com um congresso sobre sexualidade. Algumas TVs deram-lhe imenso destaque. Porquê? Porque titila, é claro. Os âncoras adoram falar numa linguagem supostamente muito alegre e aberta sobre os prazeres do sexo. País contraditório, este: o aborto é crime, temos mais casos de sida em percentagem da população do que o resto da Europa, mas apela-se à liberdade dos prazeres da carne. A questão que quero levantar não é que o discurso sobre o sexo deva ser moderado ou censurado (Vénus me livre!). Quero apenas reiterar a máxima do Foucault, mas com um twist meu: falar muito sobre sexo é mais sinal de repressão do que de liberdade. Nota-se isto, por exemplo, no facto de, nas mesmas reportagens, o elogio do sexo ser feito de forma envergonhada e eufemística: é ouvi-los a falar de "sedução", "erotismo", "beleza do corpo", etc., quando entrevistam uma stripper (e o discurso é igual no jornalista e na stripper...). Ora, se fossem mesmo libertados assumiriam que o que a stripper é suposta fazer é provocar tesão e o que o cliente é suposto fazer é ter tesão - quais "erotismos sedutores em torno da beleza do corpo", qual carapuça....

mva | 19:36|