OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


26.1.04  

Morte em campo e pornografia.

Ontem estava o P a comprar comida lá em baixo para a nossa ceia OT (a propos: ainda bem que ganhou a Sofia, contra os muxaxos (é a grafia que eles usavam!) macholas da betolândia) quando um jogador de futebol morreu em directo na TV. Toda a gente no comércio deixou de atender clientes porque aquilo era de importância nacional... As TVs passaram a interromper as emissões com o assunto. E a imagem do desfalecimento do jogador foi obscenamente repetida (e depois falam da pornografia...). Ou estou velho ou não percebo nada. Quem goza com os ridículos entusiasmos com a política nos idos de setenta, não vê o que está agora a acontecer com a histeria do futebol? Se não tem graça nenhuma morrer aos 24 com um ataque, muito menos graça tem mostrar a imagem do acontecimento à exaustão e transformá-lo num acontecimento de consternação e luto nacionais.

PS, a propósito de pornografia: imaginem que "O Homossexual" tinha sido censurado por ser "pornográfico". Ao mesmo tempo, "O Meu Pipi" não só é celebrado pela inteligentsia machola-nacional, como tem direito a ser livro. A conclusão óbvia seria que a pornografia gay é vista como mais chocante que a pornografia hetero. É assim como achar que "actos homossexuais" com adolescentes são mais gravosos que "actos heterossexuais" (ah, é verdade, a lei não fala em "actos heterossexuais...").

mva | 15:57|