OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


13.1.04  

E agora a tradução da Susana Marinho, responsável por este regresso da Bishop...

Uma arte - Elizabeth Bishop

A arte da perda não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem destinadas
a ser perdidas que a sua perda não é um desastre.

Perde algo todos os dias. Aceita a contrariedade
das chaves de casa perdidas, da hora mal passada.
A arte da perda não é difícil de dominar.

Então pratica perder mais ainda, perder mais rápido:
lugares, e nomes, e para onde querias
viajar. Nenhuma dessas perdas conduzirá a um desastre.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! Perdi a última, ou
penúltima, das minhas três casas bem-amadas.
A arte da perda não é difícil de dominar.

Perdi duas cidades fascinantes. E, perdi muito mais,
alguns reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a sua falta, mas não foi um desastre.

- Mesmo perdendo-te (a voz brincalhona, os gestos
que amo) nao terei mentido. É evidente que
a arte da perda não é muito difícil de dominar
embora a perda possa parecer (Escreve-o!) um desastre.

mva | 19:00|