OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


24.12.03  

O Penhor dos Anéis

Lá me arrastei para a terceira e espero que última parte de "O Senhor dos Anéis". O tom sarcástico tem a ver com o facto de que apanhei das maiores secas fílmicas de todos os tempos com os dois primeiros episódios. Note-se que eu não me acho nada "intelectualóide" no campo do cinema - e se há coisa de que goste é de ser "entretido" com coisas de série B, ficção científica, etc. O problema com os anéis é que não encaixam no dedo. Em nenhum dedo. A série promove-se como estando na linhagem de filmes e livros que retratam com detectivesca complexidade universos alternativos, dento dos quais o espectador ou leitor pode tornar-se num investigador da mitologia, do simbolismo, dos sistemas de classificação imaginados, etc (qual antropólogo, portanto). E creio que muita gente gosta da série por causa disso. Acontece, porém, que isso - o que é prometido - não é dado. O que, de facto, acontece na série, são duas coisas: cenas de guerra e cenas de guerra (OK, também um bocadinho de "aventura na floresta em busca do graal, confrontando-se os heróis com inúmeros perigos"). É certo que há uma ou outra cidade gira, e que as paisagens da Nova Zelândia são arrebatadoras. Mas... ponto final: o problema da série é que é, simplesmente, boring. Se o estado do imaginário contemporâneo se reduz a esta reciclagem bocejante de coisas mais bem feitas no passado, então confirma-se que o imaginário deixou de o ser, para passar a ser a mera expectativa do imaginário.

mva | 13:57|