OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


27.12.03  

À beira-mar (trans-)plantados.

É comum - em blogs e crónicas de jornais - ouvir as elites queixarem-se do "provincianismo", da "periferia", do "cantinho", do "jardim à beira-mar plantado" (toda a gente sabe que nada acontece nos jardins a não ser o lento crescimento das ervas), etc. Eu próprio faço isso vezes sem conta. Muita gente se irrita com esta atitude ou tique e propõe, como alternativa, atiçar o orgulho nacional, dizer mal dos outros sítios, ou, nos casos mais sofisticados, fazer a psicanálise das elites em pequenos países. É claro que o queixume pelo queixume não serve de nada e muitas vezes pretende-se apenas dizer que não se pertence à escumalha. Mas a alternativa dos neo-patrióticos não cheira nada bem. Acho que a única coisa a fazer é aprender mesmo a ser cosmopolita: estudar, aprender, viajar, viver, se possível, noutros países, transplantar e transplantar-se, transmitir informações, formar - em suma, educar e educar-se. Ou batemos o pé a favor dos valores cosmopolitas, promovendo-os, ou restam-nos duas alternativas: virar cínicos rancorosos e azedos, ou enveredar pelo "Cá vamos cantando e rindo" que a nova extrema direita nos propõe.

mva | 18:22|