OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


14.12.03  

As voltas trocadas I
Os bárbaros acampam na margem do Mystic

"As Invasões Bárbaras", de Dennis Arcand, é um filme que deixa um estranho sabor na boca: afinal ele está a criticar o estado social e a elogiar o neo-liberalismo, ou está a dizer-nos que nem uma coisa nem outra interessam verdadeiramente? Dadas as semelhanças entre o modelo do Québec e os modelos do norte da Europa, o filme quase que podia ser sobre esta: uma espécie de cansaço intelectual e político que leva a um desprezo desanimado, a roçar o elogio do mundo tal como o conhecemos depois de Reagan e Thatcher?

Algo de semelhante acontece com "Mystic River" de Clint Eastwood: não consegui gostar do filme. Quer Eastwood criticar (através da exposição) o profundo mal-estar do "contrato" social americano? Então porque se fica com a sensação de que não há saída que não seja o recurso a uma espécie de violência moralizante baseada na vontade pessoal?

Em ambos os casos há como que uma demissão, uma ausência de fôlego ético, uma recusa em pensar para lá da constatação dos impasses.

mva | 12:36|