OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


28.9.03  

Home's where the heart is

De regresso da Suécia. Um universo de pessoas hirtas e aflitas, sem dúvida. Mas limpo, organizado, decente. No caminho de Goteburgo para o aeroporto, os lagos largam o "fumo" da geada evaporando. Três dias duma feira do livro apinhada de gente ouvindo seminários sobre tudo e mais alguma coisa, muitas delas as mesmas pessoas que enchiam o estádio ao lado (moral da história: pode-se ter uma sociedade onde cultura e divertimento vão de mãos dadas). Ao chegar a Lisboa, a feiura absoluta do percurso aeroporto-segunda circular- eixo norte-sul, etc. A incivilidade geral, a começar pelos taxistas. No aeroporto, quatro rapazes de 20 anos da empresa dos carrinhos para bagagens; um inglês pede-lhes uma informação qualquer. Nenhum deles sabe uma palavra de inglês. Em trinta anos de democracia, que fizemos com a educação para isto acontecer? Mais: em trinta anos de democracia que fizemos para alterar a estrutura de classes? Para uma pergunta ingénua, uma resposta ingénua: garantimos que o sistema educativo fosse suficientemente merdoso para reproduzir a velha estrutura de classes...

Só quando volto do chamado "terceiro mundo" é que sinto algum alívio por estar em Lisboa. Quando volto do "primeiro" a sensação é deprimente. Fecho os olhos, conto até três, e penso em chegar a casa e abraçar quem amo. Neste "segundo mundo" só se sobrevive justificando-o com o célebre ditado inglês...

mva | 18:41|