OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


8.8.03  

Mais Ratzinger
O comentário de CC merece um contra-comentário. O problema quer da teologia, quer das notas emitidas pelo Estado da Santa Sé, sede da ICAR, é que usa argumentação com aparência lógica e racional mas (e o "mas" faz toda a diferença) construída sobre premissas ilógicas e irracionais. A saber, as da formação divina do mundo e as do diretio natural, entre outras. O direito natural é o que tecnicamente se chama um oxímoro, uma contradição nos termos: é que, sendo o direito uma instituição social e humana, um conjunto de convenções, não pertence à natureza nem precede a socialidade humana. Só é possível não pensar assim se se acreditar numa criação divina do mundo, da natureza, da humanidade, ou, alternativamente, num qualquer determinismo biológico. Cada qual é livre de acreditar no que quiser, desde que não o imponha aos outros. Mas quando se chega ao debate sobre as regras da vida em sociedade, temos que usar a mesma sintaxe, para então podermos esgrimir semânticas diferentes. Ratzinger não pode basear os seus argumentos no direito natural e na criação divina do mundo para os efeitos da discussão em causa. Senão é o mesmo que aceitar como válido o argumento de alguém que diz que não quer e não aceita uma coisa apenas porque a acha "feia", de "mau gosto" ou porque "não é assim que se faz e sempre se fez assado".

PS: Não só li, e bem, o texto de Ratzinger, como o exercício foi penoso. Ainda pensei em rir-me a dado momento, mas falhou-me o sentido de humor quando me apercebi que a influência da ICAR pode ser directamente prejudicial para a felicidade e liberdade das pessoas e, por acréscimo, para o bem comum. Não será por acaso que o cardeal ocupa um lugar que é herdeiro da Inquisição...

mva | 23:26|