OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida


13.8.03  

Economia de Mercado

Num conceituado hipermercado: ventoínhas e ares condicionados estão esgotados, não sabem quando haverá mais e há n clientes em lista de espera. Dizem-me que é normal isto acontecer quando a procura é excessiva e que há uma figura chamada "ruptura de stocks". Quando estive na Checoslováquia "socialista" acontecia o mesmo. E às vezes havia inundações do mercado com certos produtos: lembro-me bem do dia das melancias, em que camiões atrás de camiões inundaram Praga com as ditas e não se falava de outra coisa (nas bichas, claro). Um amigo meu que se dedica à fotografia diz que, como as empresas do ramo se concentraram em Madrid, tem que comprar material em excesso de cada vez que chega um camião da capital de Espanha, caso contrário pode passar semanas sem nada. O mesmo me aconteceu uma vez ao procurar mobiliário: vinha tudo de Itália ou Espanha e era preciso planear a compra em função do famigerado camião: se tivesse sorte, teria a mercadoria no dia seguinte, caso contrário só daí a dois meses.

E agora um comentário de antropólogo: existia, há 75 anos atrás, na área do Pacífico e Melanésia, um fenómeno que apelidámos de "cargo cults" (cultos da carga). Os alegres primitivos da zona, quando foram expostos ao Ocidente-Mercado, acharam que aquelas mercadorias todas eram coisa divinamente produzida. Eles viam os colonizadores construirem portos e pistas de aviação, e viam que através delas chegavam uma série de coisas boas. Vai daí puseram-se a construir imitações de portos e pistas aéreas, na esperança de que a "carga" chegasse.

Por mim, vou já comprar um camião da Corgy Toys e pô-lo num altar.

mva | 14:21|